"O actor vê fulminantemente como é puro. Ninguém ama o teatro essencial como o actor. Como a essência do amor do actor. O teatro geral. O actor em estado geral de graça."

30.3.10

Mais claro que isto não há

Podem odiá-lo, achar que é um antipático, arrogante, insuportável, pedante e todo o rol de "elogios" a que este senhor já teve direito, mas contrariem lá isto:


"Um estudo de Luís de Sousa, sociólogo do ICS, mostra que 63% dos portugueses toleram (ou, mais precisamente, aprovam) a corrupção, desde que ela produza "efeitos benéficos" para a generalidade da população. Isto não é um sentimento transitório, provocado por trapalhadas recentes; é uma cultura. A cultura dessa grande guerra que desde que nasceu qualquer de nós tem com o Estado opressor e remoto e com Governos que nunca respondem pelo que fazem ou deixam de fazer. O português médio execra a autoridade, seja sob que forma for, e vive no seu país como se vivesse sob ocupação estrangeira. O servilismo e a falta de carácter, que tanta gente pelos tempos fora lamentou, escondem a vontade de salvar a pele e a aspiração, muito natural, de enganar quem manda.
Não há regras para ninguém, porque ninguém cumpre as que por acaso há. Quem pode levar a sério uma escola em que o próprio ministério fabrica os resultados, proíbe legalmente a reprovação e aceita a violência ? Quem pode levar a sério um regime que se diz democrático e selecciona o funcionalismo pela fidelidade partidária ? Quem pode considerar um ponto de honra pagar impostos, quando a fraude e a injustiça fiscal são socialmente sinais de privilégio e de esperteza ? Quem vai pedir um recibo ao canalizador ou ao electricista ou a factura no restaurante, quando sabe o que paga e o que o Estado gasta sem utilidade e sem sentido ? E quem vai obedecer às determinações da câmara do seu sítio, quando a camara é uma agência de negócios de favor e uma bolsa de favores sem explicação e sem desculpa ?
Não admira que o "povo dos pequenos" conspire constantemente contra a lei e até contra a decência. Que falte ao trabalho ao menor pretexto; que trabalhe mal, se trabalhar bem lhe custa; que peça aqui ou empurre ali, para se beneficiar ou aliviar; que torne as ruas uma lixeira pública; que guie, na cidade ou na estrada, como se estivesse sozinho; que minta a torto e a direito sobre o que lhe apetece e lhe convém; que não passe, enfim, de um miserável cidadão, indiferente à política e ao país. Não lhe ensinaram outra coisa. Os chefes são como ele. O Estado é como ele. Como exigir que ele se porte como Portugal inteiro não se porta ? Claro que ele aprova a corrupção e consegue ver nela virtudes redentoras. Não é agora altura de mudar de costumes."


Vasco Pulido Valente, Público, 19 de Março de 2010

16.3.10

Miguel Esteves Cardoso, o último dos Moicanos: A Leya é fodida

"O Ultraje

No PÚBLICO de anteontem, Luís Fernandes, da Universidade do Porto, ironizou sobre a transformação em pasta de papel, pelo grupo Leya, “de dezenas de milhares de livros de Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Eduardo Lourenço e Vasco Graça Moura, publicados pela ASA”.
Sempre quis comprar um dos livros destruídos: a antologia de poesia e prosa que Eugénio de Andrade fez e a ASA editou, com o nome maravilhoso e verdadeiro deDaqui houve nome Portugal. Era um livro bonito, grande, muito bem impresso e encadernado, sob a chancela da Oiro do Dia. Li-o na biblioteca de universidades inglesas mas, para vergonha minha (como já o tinha lido, num prenúncio dos malefícios da Internet), nunca o comprei; apesar de achar que, sendo caro, era barato para o que era. O papel era bom. A selecção era boa. Era um livro perfeito – e até hoje não o tenho.

Tenho ligações sentimentais ao grupo Leya (por causa d”O Independente) e ainda esta semana recebi uma proposta simpática e tentadora da Dom Quixote, que agora faz parte da Leya. Mas que posso fazer quando uma grande editora, recém-formada e sem qualquer tradição literária, transforma um livro que era caro de mais para eu comprar em pasta de papel? É de vomitar. Não podemos dar dinheiro a quem só pensa em dinheiro. José Saramago – mau escritor mas boa pessoa, na minha miserável opinião – foi enganado. Eugénio de Andrade e Jorge de Sena – um grande poeta e um génio – foram ultrajados.

Desejo sinceramente que a Leya se foda."


In Público, 4 de Março de 2010


Depois destas palavras sábias, acho que não há nada a acrescentar.





"Tenho pena, ah como eu tenho pena!... dos que precisam de inventar coragem para um novo dia, certezas certezinhas, obediência a religião ou partido ou rotinas,de inventar-se comodidades necessidades ou ilusórias vaidades de levar melhor vidinha (ceguetas todos eles aos limites da humana criatura que é para todos e de repente o coveiro), razões para estar e lutar além destas, tão simples afinal e misteriosas sempre, tão naturais e primitivas: uma rapariga nossa que amamenta o filho,duas crianças que pedem pão e olham para ti."



Luiz Pacheco (1925-2008) in Comunidade, 1964

15.3.10


As obras de Luiz Pacheco andam inflacionadas em todo o lado (principalmente após a sua morte). Nas livrarias convencionais já quase não se encontra nada a não ser os livros mais recentes (Diário Remendado; O Crocodilo que Voa). Este Literatura Comestível chegou-me às mãos por uns simpáticos 40€ - cortesia da Dança da Solidão - vendido pela Letra Livre, onde ainda se podem encontrar várias obras deste autor (mas preparem a carteira).

Desabafo Post Scriptum: Mas para quem é que eu estou a falar/escrever? Só quatro pessoas têm acesso a este blog: uma está neste momento na India e não deve ter acesso fácil a um computador e mesmo que tenha, não acredito que o queira fazer, e mesmo querendo, duvido que esteja nas suas prioridades visitar este blog - não a censuro. Das outras pessoas, apenas sei de uma que aqui vem regularmente: é a Dança da Solidão. Neste caso aposto que só aqui vem por pena, ou por causa da dita solidão, de qualquer das formas é de louvar o esforço, a simpatia e a compaixão. Os outros dois, se vêm, não comentam (também não há nada para comentar), embora eu ache que eles nem passam por cá só para não terem o trabalho de fazer login (eu faria o mesmo, que raio, há tantos blogs na net porque é que vou ver um em que é preciso bater à porta?). Tudo isto para dizer que me sinto um bocado maluquinho por escrever coisas como "mas preparem a carteira". Será que estou a ficar louco?

4.3.10

If you should go skating,
On the thin ice of modern life,
Dragging behind you the silent reproach
Of a million tear stained eyes,
Don't be surprised,
when a crack in the ice
Appears under your feet
You slip out of your depth and out of your mind
With your fear flowing out behind you
As you claw the thin ice.

(Roger Waters)





Memória, Passado, O Mar, Poesia

Poeta

O vídeo anterior foi retirado por questões que se prendem com os direitos de autor.

Trouble Every Day